Apolo perseguindo Dafne

Apolo perseguindo Dafne

Tempo de leitura: 5 minutos

Apolo perseguindo Dafne são duas obras realizadas no início do século XVIII, por dois irmãos escultores franceses: Apolo por Nicolas Coustou (1658-1733) e Dafne por Guillaume I Coustou (1677-1746).

As duas obras dos irmãos Coustou, baseado ma mitologia grega ilustra uma passagem do livro Metamorfoses, de Ovídeo (43 a.C – 17 ou 18 d.C.), sobre a perseguição que a ninfa Dafne sofreu pelo insistente deus Sol, Apolo loucamente apaixonado pela flechada que recebeu do deus Amor, Eros (filho de Afrodite e Ares).

Ovídeo também relata através de poemas, a transformação dos deuses e dos homens, em plantas ou animais.

Apolo perseguindo Dafne:

Após ter zombando de Eros (o deus Amor), da forma que ele pegava no arco, Apolo foi punido recebendo uma flechada de ouro, que o deixou loucamente apaixonado por Dafne. Ao mesmo tempo Dafne, recebeu um flechada de chumbo, causando o efeito contrário, rejeitando qualquer tipo de aproximação e relação com Apolo.

Apolo perseguindo Dafne
“Apolo perseguindo Dafne” (século XVIII). Museu do Louvre

A obra descreve essa paixão louca de Apolo onde aparece correndo desesperadamente para alcançá-la e declarar seu amor, e Dafne procurando se afastar dele, o mais rápido possível.

Cansada de tanto correr, Dafne acaba suplicando ao seu pai, o rei Peneu, que a transformasse num loureiro, caso fosse pega, para nunca ter que suportar esse amor indesejado.

No exato momento que Apolo estava bem próximo, o rei Peneu atendeu ao pedido da filha, transformando-a numa linda árvore de loureiro.

Apolo ainda enfeitiçado, pegou algumas folhas da árvore (Dafne) e fez delas uma coroa de louros. Coroando a si mesmo como um símbolo de vitória e glória pela difícil conquista.

“Música, Apolo e a Poesia”, de Aimé Millet. Ópera Garnier. Paris.

As 4 Estátuas do Castelo de Marly:

O casal Apolo perseguindo Dafne foram encomendadas pelo departamento de edificações, de Luís XIV (1643-1715), juntamente com outras duas estátuas de corredores famosos que também fazem parte da mitologia grega: Hippomène”, de Guillaume I Coustou (1677-1746) e “Atalante”, de Pierre Lepautre (1659-1744). Expostas também no Louvre.

Cada obra decorava o centro de quatro bacias decorativas, conhecidas como ” les bassins des Carpes”, no jardins Castelo de Marly.

Castelo que Luís XIV (1643-1715) frequentou no final do seu reinado, como um local de lazer descanso e fuga da agitação e das etiquetas do Castelo de Versalhes.

Segundo um desenho em aquarela que se encontra nos Arquivos Nacionais, as 4 estátuas estavam posicionadas em posição paralela, e seus olhares se cruzavam no desafio da corrida na qual cada casal estava envolvido.

Transferidas em 1798 para o Jardim das Tulherias, permaneceram por lá até 1940, (época da ocupação alemã), por motivos de conservação e segurança as 4 obras foram enviadas para o Museu do Louvre, onde se encontram expostas atualmente.

Elas representam a evolução das esculturas do final do reinado de Luís XIV. Enquanto que em Versalhes as esculturas são majestosas, trabalhadas, formais e de grande dimensões, as de Marly são menores, buscam o movimento, são mais elegantes, mais livres e mais naturais. Modelo escultural que será referência no reinado de Luís XV (1715-1774).

Castelo de Marly (1724), de Pierre-Denis Martin (1663-1742).

O Castelo de Marly foi devastado durante a Revolução Francesa, e tiveram a partir de 1794 várias esculturas salvas e transferidas para Paris. Em 1799, o Castelo foi comprado por um industrial francês, para fabricar tecidos, após falência foi comprado totalmente destruído em 1806, por Napoleão Bonaparte I (1804-1814/1815). O parque atual é propriedade do Estado e faz parte da comuna de Marly-le-Roi.

Análise das obras:

Os dois irmãos Coustou representaram em suas obras, uma movimentada corrida frenética dos personagens dando uma impressionante sensação de velocidade.

Nicolas Coustou representou o corpo de Apolo tensionado em direção a um só objetivo, alcançar Dafne. Inclinado para a frente, numa linha diagonal, braço direito esticado para frente, uma das pernas esticada para trás, e da direita apoiada levemente nas pontas dos dedos. Os cabelos desarrumados ao vento e a vestimenta esvoaçada, confirmam a dinâmica da velocidade da obra.

“Apolo perseguindo Dafne”, dos irmãos Coustou. Louvre. Foto: Thierry Ollivier.

Enquanto a Dafne de Guillaume I Coustou parece estar prestes a ser apanhada, expressando todo seu medo: Os olhos bem abertos e arregalados dão a impressão do pavor que está sentido caso seja pega. Os membros do seu corpo, seguem em todas as direções, parece deslocados, ela lança os braços suplicantes para a frente para ganhar velocidade. Sua expressão é teatral, as dobras esvoaçadas da sua túnica reforça de que se trata de uma fuga desorientada.

O tronco de árvore em cada obra, garante a estabilidade das esculturas, cujo equilíbrio é uma verdadeira proeza técnica, dada a fragilidade do mármore.

Essas estátuas trazem um pouco do espírito barroco romano, sem aquela dramaticidade caraterística. A vivacidade das obras, as proeza construtiva, a elegância e o estilo decorativo, anunciam o estilo rococó que surgiria na França, durante o reinado de Luís XV.

Localização das duas obras:

Departamento de esculturas da França, do século XVII e XVIII.

Ala Richelieu, Cour Marly (pátio Marly), nível entressolo, sala 102.

Apolo perseguindo Dafne
Planta Louvre. Ala Richelieu, Cour Marly, entressolo, sala 102.

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FonteLouvre. Foto capa: Gabriel Ojéda.

7 Comentários


  1. boa tarde Tom

    Artigo lindo ….eu adoro as esculturas de Dafne sendo transformada em loureiro…
    Abs Neusa

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  2. Olá Tom,
    Estou atrasada com as leituras. Em dezembro fico sempre muito ocupada com os preparativos para o Natal, pois recebo a família e amigos em casa. Hoje estou começando a voltar ao normal.
    Obrigada pelas informações sobre Dafne e Apolo. Amei as estátuas!
    Hoje estava pesquisando sobre Luis Fouquet, seu castelo e seu triste fim. Conheci, também, as obras de Jean Fouquet. Você sabe se eles eram parentes?
    Abraços!

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    1. Oi Adelir, acho que você quis dizer Nicolas Fouquet (1615-1680),superintendente das finanças de Luís XIV (1643-1715), que construiu o Castelo de Vaux-Le-Vicomte, e que perdeu tudo por abuso de confiança na pessoa do rei Luís XIV, e desvio de dinheiro público, julgado e condenado, morreu na prisão. Jean Fouquet (1420-1480) é de outra época, século XV, pintor mestre em iluminuras, e sem relação parentesca com Nicolas Fouquet. Feliz 2020! Abraços!

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  3. BOM DIA,

    APESAR DE MEU INTERESSE SER MUITO MAIOR PELAS PINTURAS, SEUS ARTIGOS, SEMPRE MUITO ESCLARECEDORES, ESTAO ME ATRAINDO PARA O ESTUDO DAS ESCULTURAS

    PARABENS

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    1. Valeu Pedro! Fico contente que esteja gostando também de esculturas. Feliz 2020! Abraços

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  4. Minha paixão por artes plásticas já me levou ao Louvre 12 vezes !! (hehe). A cada visita, um novo encanto. Várias vezes, fiquei muito tempo vendo as esculturas, cada detalhe, cada pedacinho, observando a posição, a expressão, o movimento… Fantástico!
    Lendo teus posts, revisitei esses recantos com prazer redobrado, pois acrescentaste mais informações aos meus conhecimentos. Muito mais! Obrigada. Parabéns!

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    1. Sandra, fico feliz que esteja gostando do site e das obras comentadas. Obrigado pelo seu simpático comentário. Abs.

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