As Bodas de Caná

As Bodas de Caná

Tempo de leitura: 22 minutos

Como guia conferencista do Museu do Louvre, vejo muitos visitantes correrem para ver o quadro da Mona Lisa, na grande sala “de la Joconda”, na qual está exposta para um mar de pessoas. E não percebem que na parede oposta, encontra-se o maior quadro do museu, seja por suas dimensões ou por sua composição: As Bodas de Caná, de Veronese.

A grande obra e a grande tela.

As Bodas de Caná, de Veronese
Bodas de Caná. Louvre. Foto: ©Maxppp.

Claro que tem muitos que param para ver. E olham, olham e olham… E tentam decifrar algum dos vários segredos que o pintor Veronese esconde.

É até um pouco divertido ficar por ali olhando as reações das pessoas… Uns logo desistem e se mandam para ver a “Mona“, outros ficam aguardando um guia do museu e seus clientes, para se infiltrar e pescar alguma explicação (quem nunca fez isso?). Alguns buscam sozinhos as informações através do áudio-guia e outros suportes numéricos (Ipad, Iphone, Google….). Escutam, olham, escutam olham e vão se embora enganados achando que sabem o bastante.

Realmente não é fácil, mesmo para nos guias darmos uma explicação lógica e rápida em poucos minutos, numa sala lotada de visitantes, e contar a história, a importância e a simbologia que ele representa para o mundo da arte.

Escrever parece ser até um pouco mais fácil mas não garanto que eu tenha “A” explicação ideal ou correta. Mas vou tentar passar o máximo de detalhes e informações a respeito.

Assim quando você for ou retornar um dia ao Louvre para ver a Mona Lisa não passe batido pela “As Bodas de Caná” que se encontra em frente a ela.

O pintor Veronese:

As Bodas de Caná de Veronese
Paolo Veronese (1528-1588).

Paolo Caliari (1528-1588), conhecido pelo nome de Veronese por ter nascido na cidade de Verona foi um célebre pintor italiano representante do renascimento tardio do movimento maneirista e do barroco.

Fez importantes obras nas principais cidades da Itália, mas chegou no auge da sua carreira em Veneza, sozinho ou em companhia com outros artistas realizou pinturas e afrescos em igrejas, monastérios, conventos, na biblioteca Nacional de São Marcos e principalmente no Palácio des Doges.

Temas religiosos e mitológicos de altíssimas qualidades técnicas e de grandes dimensões caracterizada pelo emprego de cores fortes vibrantes e uma luminosidade excepcional na composição da arquitetura, da cena, nos personagens, nos objetos e nas paisagens.

Suas obras, juntamente com a dos seus contemporâneos pintores, Ticiano (1485-1576) e Tintoretto (1518-1594) marcaram a história da pintura veneziana e europeia, influenciaram posteriormente diversos artistas como VelásquezRubens, Van Dick, Maarten de Vos, e mais tarde: Delacroix, Cézanne… E outros mestres renomados.

“As Bodas de Caná” e “A Santa Ceia”.

As Bodas de Caná de Veronese
Basílica de São Jorge Maior

A obra “As Bodas de Caná” foi realizado por Veronese, entre os anos de 1562-1563, para decorar uma parede do refeitório dos monges beneditinos da Basílica de São Jorge Maior (“Basílica di San Giorgio Maggiore”), localizada na ilha San Giorgio Maggiore, em frente a Praça de São Marcos, em Veneza.

Foi o trabalho mais ambicioso de Veronese e o que lhe deu algumas dores de cabeça com a igreja e a inquisição espanhola.

Pediram a ele explicações pelo fato de retratar uma cena do novo testamento, descrita segundo o evangelho de  João 2:1-12, onde em um casamento em Caná aconteceu o primeiro milagre de Jesus Cristo, com a transformação da água em vinho. Misturando com a cena da última refeição de Jesus com seus apóstolos, descrita no evangelho de Lucas 22:7-20 (A Santa Ceia). E cenas profanas, que se passam em Veneza do século XVI, rica, ostentadora e perdida pelos pecados capitais, ditados por Deus.

Ou seja pintou tudo junto e misturado o Profano e o Sagrado na mesma tela, dificultando a leitura e escondendo suas reais intenções que segundo o contrato assinado com o abade superior do monastério deveria ter somente uma interpretação religiosa.

O refeitório foi escolhido para lembrar aos monges beneditinos durantes suas refeições e orações que aquela vida fora do monastério era maligna e condenável e que eram necessárias muitas orações para que eles, homens de fé fossem salvos dos pecados que os cercavam.

Uma forma complicada para descobrirem ou aprenderem o que é bom para salvação da alma e assim entrarem em paz no reino de Deus. E o que é ruim com suas tentações e perdições terrestres que certamente o levariam para um mundo sinistro nas profundezas da terra.

Análise: As Bodas de Caná de Veronese

Nome do artista: Paolo Caliari, dito Veronese (1528-1588).

Título: Nozze di Cana (em italiano); Les Noces de Cana (em francês); As Bodas de Caná ou O Casamento em Caná ou A Festa do Casamento em Caná (em português).

Ano da obra: De junho 1562 a setembro 1563. Levou 15 meses para ser realizada.

Tipo de SuporteTela em tecido de linho.

Técnica utilizada: Óleo sobre tela.

As coresVeronese escolheu pigmentos coloridos, caríssimos importados do Oriente, dando preferência para o amarelo-alaranjado, vermelho vivo e lápis-lazúli para o céu e tecidos. Importante para leitura da obra e uma bela jogada de contrastes para a  individualização dos personagens.

Dimensões da obra: 6,67 m de altura por 9,94 m de largura.

Movimento: Maneirismo.

Gênero da pintura: Cena histórica religiosa com cena contemporânea de Veneza do século XVI (época em que vivia Veronese).

Local em que se encontravaRefeitório do monastério da Basílica de São Jorge Maior, em Veneza, Itália.

Contexto histórico: A composição do quadro, no primeiro olhar nos leva a pensar que se trata de uma passagem bíblica sobre “A Santa Ceia“, pois vemos Jesus Cristo no centro de uma mesa preparada para uma refeição a lado de sua mãe, Maria e dois apóstolos. Mas olhando com mais atenção e lendo o título da obra percebemos que se trata de uma festa onde se comemora um casamento com a presença de Jesus e a Virgem Maria, mesmo não sabendo onde estão localizados os noivos que para Veronese são personagens menos importantes.

Assinatura: A obra não tem assinatura, mas o autor Veronese foi reconhecido por existir um contrato assinado entre a igreja e o pintor detalhando as dimensões da tela, o ambiente a ser instalado, o tema a ser desenvolvido e as condições de pagamento.

Local de conservação: Museu do Louvre, ala Denon, 1° andar. Sala “de la Joconda” ou sala 711.

Data de entrada no Louvre: 31 de julho de 1798.

Forma de aquisição: Espólio de guerra.

História da aquisição.

As Bodas de Caná de Veronese
Bonaparte, por Édouard Detaille

Em 1797, Napoleão Bonaparte após sua campanha vitoriosa pelas cidades da Itália, ao assinar o acordo de paz no Tratado de Campoformio exigiu aos derrotados Austríacos pagamentos de tributos em forma de obras de arte. Dentro das várias escolhidas encontrava-se a tela: As Bodas de Caná de Veronese.

A tela, depois de cortada na horizontal em pedaços foi enrolada e trazida em barco até Paris.  Chegando somente em 31 de julho de 1798, ano em que foi exposta no “Salon Carré” do “Museu Central das Artes da República”, atual Museu do Louvre.

Em 1815, com queda do imperador na batalha de Waterloo a obra deveria ter sido devolvida, mas o diretor do Louvre naquela época, Vivant Denon (1747-1825) conseguiu conservá-lo no museu negociando com os Austríacos que haviam retomado possessão de Veneza e outras cidades da Itália.

“Almoço na casa de Simão, o Fariseu, com Maria Madalena aos pés de Cristo” (1563),
de Charles Le Brun.

Em troca pelas As Bodas de Caná de Veronese, os venezianos receberam a obra do pintor francês Charles Le Brun (1619-1690), Le Repas chez Simon le Pharisien avec Marie-Madeleine aux pieds du Christ (1653) ou “Almoço na casa de Simão, o Fariseu, com Maria Madalena aos pés de Cristo“, que se encontra atualmente na Gallerie dell’Accademia, em Veneza (Itália).

Uma cópia fiel da obra de Veronese As Bodas de Caná foi instalada na mesma parede do refeitório dos monges beneditinos no monastério da Basílica de São Jorge Maior em Veneza.

Análise da Composição: 

Veronese realizou uma obra monumental de aproximadamente 70 m² para ser instalada a 2,50 m do nível do chão numa parede do refeitório dos monges beneditinos da Basílica São Jorge Maior, em Veneza.

Através da construção de perspectivas, com pontos de fugas diferenciados conseguiu criar uma imagem panorâmica numa arquitetura grandiloquente repleta de pequenos detalhes, rico em personagens, de cores intensas e harmoniosas, de contrastes claros e escuros, iluminação leve e indireta e repleta de representações simbólicas, profanas e sagradas. Tudo misturado num contexto da época de Veneza, do século XVI.

Para realizar tal efeito de profundidade e grandeza, Veronese definiu a linha do horizonte na base da balaustrada, um pouco acima da cabeça de Jesus Cristo e dois pontos de fugas distintos: Um acima da cabeça de Jesus para o desenho da arquitetura dos edifícios e um segundo ponto, bem mais alto, no centro do céu, para a construção das linhas dos mosaicos de cerâmicas do piso e da mesa dos convidados ao banquete.

Uma inteligente técnica para aumentar o campo de visão e colocar todos os 130 personagens dentro da cena, (sendo 122 pessoas + 6 cachorros + 1 gato + 1 papagaio). Contados abaixo.

Análise da cena:

O partido adotado por Veronese foi então criar um confusão mental, espiritual e visual nos expectadores misturando duas passagens bíblicas: Uma definida na encomenda: As Boda de Caná, e outra por uma escolha pessoal, A Santa Ceia inspirado no afresco da A Última Ceia, de Leonardo da Vinci.

“A Última Ceia” (1495-1498), de Leonardo da Vinci.

E para complicar um pouco mais escolheu duas épocas diferentes, aproximadamente 1500 anos entre elas. A época de Jesus, ao 33 anos e a de Veneza do século XVI, ano em que ele, Veronese, vivia.

Uma tela enorme, ilustrando uma cena bíblica, onde vemos a transformação da água em vinho, (o 1° milagre de Jesus), em Veneza, ao invés de Caná, na Galileia.

A cena foi divida em duas partes: Um mundo Celestial situado atrás da balaustrada e um mundo Terrestre, abaixo da balaustrada ou a linha do horizonte.

Mundo Celestial.

Vemos uma paisagem que toma uma grande parte da obra. Um céu azul, com nuvens brancas, pássaros sobrevoando um campanário e edifícios, no estilo clássico grego, caracterizados por colunas, Dóricas, Jônicas e Coríntias.

As Bodas de Caná de Veronese

Todo o lado esquerdo iluminado por uma luz indireta, que vem da direita.

Uma obra arquitetônica que não existia na época em Veneza, mas desenhada para fazer uma homenagem especial ao seu amigo e arquiteto Andrea Palladio, construtor da Basílica de São Jorge Maior, que o indicou ao abade do monastério para realização dessa pintura.

Acima da balaustrada, um terraço com várias pessoas trabalhando. Um homem no centro aparece cortando uma carne (cordeiro) e dois outros a direita transportando uma mesa com um animal abatido (cordeiro?).

Mundo Terrestre

Parte Central: Situada abaixo da balaustrada, temos o lado terrestre da obra. Vemos uma mesa em forma de U“. Jesus no centro da tela, junto a sua mãe Maria e vários outros convidados festejam um casamento num suntuoso banquete onde o vinho acabou por alguns instantes.

As Bodas de Caná de Veronese

Jesus Cristo: Situado abaixo da balaustrada, no centro da mesa é a primeira pessoa que logo identificamos por sua auréola brilhante e por estar nos observando. Vestido com roupas simples da sua época parece não muito feliz, em responder ao pedido de sua mãe, pois Ele sabe que a partir de agora seus poucos dias na terra estão contados.

Maria, mãe de Jesus: Da mesma forma é facilmente identificada, pois além de estar ao lado de seu filho, também possui uma auréola um pouco menos brilhante. Roupas simples, com um lenço preto envolta a cabeça.

Convidados: Tudo indica que apesar dos empregados continuarem preparando uma segunda rodada de carne (podemos ver no terraço atrás da balaustrada) todos que estão sentados na mesa já passaram para sobremesa, olhando nos pratos percebemos que só tem frutas e doces.

À esquerda: Ricos, reis, príncipes, nobres e aristocratas, vestido na moda oriental.

As Bodas de Caná de Veronese

Nível do solo: Definido pelo piso recortado com pedras de mármore coloridas.

Quanto ao casal de noivos que deveria ser facilmente reconhecível, somente encontraremos se prestarmos bem atenção aos acontecimentos que se passam na cena. E para quem ainda não os achou, eles são os primeiros sentados na mesa, no lado esquerdo.

Olhando agora para à esquerda da tela vemos um empregado agachado mostrando ao noivo que o vinho que estava na ânfora acabou. Ao mesmo tempo, um pequeno empregado negro apresenta uma taça de um novo vinho (o vinho do milagre).

À direita temos o primeiro milagre de Jesus, pois vemos um serviçal encurvado segurando uma ânfora, despejando o vinho já transformado para um jarro próprio para esse uso. Um gatinho brinca com uma outra ânfora.

No mesmo lado direito, homens santos da igreja, missionários da igreja, Leonardo da Vinci (representando a pintura e a arte renascentista), o inquisidor espanhol e outros.

Veronese talvez tenha se autorretratado como “sommelier” do banquete, vestido em branco podemos vê-lo em pé, de perfil, analisando a cor do vinho na taça (Veronese 2, na foto acima).

No centro, temos 4 músicos junto a uma mesa e dois cachorros. Veronese está de novo representado como músico no centro da tela vestido também com uma túnica branca tocando uma espécie de viola com arcos (talvez uma forma que encontrou de assinar sua obra para posterioridade).

Representou também seus amigos pintores, como homenagem por terem lhe ajudado ou indicado em outras obras em Veneza:  Jacopo Bassano (em verde), Tintoretto (azul) e Ticiano (em vermelho) tocando um violoncelo).

Interpretações: Profana e Sagrada.

Veronese foi muito criticado pela igreja inquisidora espanhola da época pelo fato de tomar liberdades na representações de temas bíblicos, no caso: “As Bodas de Caná” e a “Santa Ceia“, misturando personagens sagrados da Bíblia como: Jesus, Maria e discípulos com personagens profanos representados por homens e mulheres ricas, bem vestidos, em luxuosas de ostentações, num banquete farto, num cenário grandioso, composto por arquitetura suntuosa. Tudo acentuado por divertidos bufões, anões, músicos, cachorros, gato e um papagaio.

Teologicamente, a inquisição estava preocupada com a mensagem e os riscos que essa obra poderia passar aos homens principalmente aos indecisos com relação a religião que deveriam seguir: A Católica Sagrada Romana ou a dos Protestantes heréticos e fanáticos ?

A separação entre o Sagrado e Profano na obra de Veronese mostra exatamente sua liberdade na representação de um tema na qual foi obrigado a obedecer por ordens de um contratante pagador (aqui no caso um religioso). E por outro lado sua total liberdade de representar suas ideias conforme suas vontades e crenças pessoais.

Como ele mesmo dizia: “Todo artista tem a mesma liberdade que poetas ou loucos”.

Em 1573 acabou sendo levado a um tribunal da Inquisição para dar explicações sobre uma outra obra chamada Cena in casa di Simone (1570) ou Ceia na casa de Simão, que encontra-se em exposição na Pinacoteca de Brera, em Milão.

As Bodas de Caná de Veronese
“Ceia na casa de Simão” (1570), por Veronese

Um quadro que também misturava imagens Sagradas e Profanas. Se defendeu bem, pois continuou a pintar com liberdade (vigiada) até 1588. Ano que faleceu por pneumonia, aos 60 anos.

O profano:

Analisando a ação de alguns dos personagens fica caraterizado alguns dos Sete pecados Capitais:

As Bodas de Caná de Veronese
Sete pecados capitais

O orgulho e soberba: A noiva nos observa querendo dizer algo. Parece estar bem orgulhosa com o sucesso da festa. Um ar de superioridade com relação a nos, que a encaramos. Um mulher rica e bem apresentada onde nada está faltando. No lado esquerdo do quadro, notamos alguns personagens extremamente pomposos, os noivos (sentados na ponta da mesa) e seus convidados que possivelmente são: um sultão, um rei, uma rainha e nobres aristocratas locais, todos vestidos ricamente, no estilo oriental, moda no século XVI, com tecidos de seda, turbantes, joias, pratarias,

A avareza : Uma mesa composta com caríssimos copos de cristais (da ilha de Murano), jogo de talheres com faca e garfo que somente poucos podiam possuir. Um banquete exuberante de comida farta num serviço contínuo e sem hora para acabar. Um desejo intenso de mostrar riquezas.

A inveja: Notem que as pessoas ao lado da noiva, um homem e uma mulher olham fixamente para suas joias e cochicham segredos, tramas, estratégias ou algo que pudessem roubar ou coisa parecida… Parecem terem ciúmes, com relação a riqueza do casal de noivos.

A gula: Representada pela fartura da mesa, apesar de todos os convidados já estarem na sobremesa, no terraço ao alto, os empregados continuam trabalhando e preparando uma nova rodada de serviço de carnes. Vemos uma sendo cortada e outra entrando à direita numa espécie de prancha. Um 2° turno para os novos convidados (plebeus menos importante da cidade) que estão prestes a chegar ou para os próprios empregados da festa, pois devido ao excesso de comida comida, poderá ser distribuída entre todos.

A ira: Representada nos olhares das pessoas próximas os noivos, localizados entre os pilares do edifício na esquerda. Também conhecida pela cólera de alguma coisa ou de alguém.

A preguiça: Representada pela falta de vontade e lentidão em algumas pessoas do fundo à esquerda pelo excesso de vinho tomado durante a festa.

Um lembrete subliminar para os monges beneditinos da Basílica de São Jorge Maior que esses seriam os principias pecados que terão que evitar para a salvação das suas próprias almas e dos seus futuros seguidores.

O Sagrado:

Veronese esconde por várias partes do quadro símbolos religiosos anunciando o “Sacrifício de Jesus” ou a “Paixão de Cristo“, destinado por Deus para a salvação das almas e dos pecados dos homens.

As Bodas de Caná de Veronese
Jesus e Maria.

Jesus nos observa fixamente, pois Ele é Superior entre todos os homens da terra. Nos olha fixamente pois em breve quando estiver na Cruz, só olhará para o céu e a Deus! Após fazer o primeiro milagre tem conhecimento que seu tempo na terra, junto aos homens está se esgotando.

Maria com um semblante triste e abatida (já sabe o destino de Jesus) usa um lenço preto envolta da cabeça (sinal de luto pela futura morte do seu Filho na cruz) e segura uma cálice de vinho, invisível, com a mão esquerda que nos leva a crer que recebeu o sinal de Deus ordenando que seu filho Jesus começasse suas obras públicas fazendo o primeiro milagre, transformando a água em vinho.

A taça vazia simboliza que Jesus é o remédio e a saúde. Crendo NELE e por intercessão dela Maria, os homens serão livres dos males da terra e todos serão curados.

Outra interpretação: Maria segura o cálice de vinho da última ceia onde Jesus Cristo anunciará ao mundo que seu sangue derramado na Cruz, será o sangue da nova e eterna aliança entre os homens e de Deus todo poderoso, criador do Céu e da Terra.

Jesus e Maria são os únicos com auréolas de santificados, enquanto dois dos seus discípulos (Pedro e João) discutem distraidamente e não perceberam que o milagre já ocorreu. Por isso ainda não foram retratados com auréolas.

Na mesa, junto ao músicos, vemos uma ampulheta. Uma referência simbólica sobre o tempo que resta para Jesus desde que fez seu primeiro milagre, As Bodas de Caná até a Santa Ceia, seu penúltimo dia juntos aos apóstolos e aos homens, antes de ser levado a cruz.

As Bodas de Caná de Veronese

Vemos também dois cachorros, símbolo da fidelidade. Um está deitado roendo um osso, referência aos ossos que se encontravam no monte Gólgota (ou o monte do Calvário ou monte do Crânio). Local onde Jesus futuramente será crucificado. E o outro olhando para um gato brincando com ânfora a esquerda.

As Bodas de Caná de Veronese

Um gato brinca com uma ânfora de vinho decorada com uma imagem de um sátiro, referência ao deus do vinho, Baco. Símbolo dos excessos e da infidelidade dos homens causada pela embriaguez. Lembrando que Jesus será traído por Judas e negado por Pedro.

Abaixo de Jesus, atrás do músico em azul (Tintoretto) vemos um bufão da corte em vermelho olhando para uma criança (à esquerda) debruçada nos ombros do músico em branco, (autorretrato de Veronese). Simbolicamente, uma passagem da bíblia sobre a tentação de Jesus pelo diabo (= bufão da corte) enquanto jejuava na montanha no deserto da Judeia. E o anjo (= criança) protetor do Senhor que o guarda contra as tentações. Segundo o evangelho de Mateus 4:1-11, Marcos 1:12,13 e Lucas 4:1-13.

No terraço atrás da balaustrada e acima da cabeça de Jesus vemos um homem com um facão cortando uma carne, talvez um cordeiro como era o hábito nas festas de casamento na época de Jesus. Simboliza o sacrifício de Jesus (cordeiro de Deus) na Cruz, para remissão dos pecados dos homens e de todos os males.

As Bodas de Caná de Veronese

E um pequeno vaso, acima da cabeça de jesus e atrás da balaustrada, para recolher o sangue derramado, que significa que Jesus morreu e sangrou pelos pecadores.

Neste mesmo terraço (à direita) vemos dois homens carregando um outro cordeiro, numa mesa de madeira. Simbolizando que Cristo após morrer, seu corpo será descido da Cruz para ser sepultado e ressuscitado.

As Bodas de Caná de Veronese

Bem no alto do edifício da direita vemos que uma pessoa jogou três rosas branca. Flor mística entre todas as flores do paraíso, simboliza a aliança de Nossa Senhora Maria com os mistérios da  encarnação de Jesus Cristo e sua ligação com Deus.

E por último vemos três pombas brancas (= paz) sobrevoando o campanário de uma torre da igreja. O número três, a trindade, o Pai, o Filho e o Espirito Santo. Um anúncio da bondade de Deus e da presença de Jesus Cristo na terra para salvação das almas, para que todos os homens vivam em busca da paz e encontrem a porta do Paraíso Eterno.

Gostaria de fazer uma visita guiada ao Louvre onde mostrarei essa obra “As Bodas de Caná“? Clique no botão abaixo para mais informações ou no botão do Whatsapp para um contato mais dinâmico. Até breve! Tom Pavesi!

Fontes:

  • “Les Noces de Cana”, no site do Museu do Louvre.
  • “Les déplacements et les restaurations successives in : Les Noces de Cana de Véronèse”, de Jean Habert e Nathalie Volle. Ed. Réunion des Musées Nationaux, 1992.
  • The Wedding Feast at Cana – 1562-3: Paolo Veronese”, artigo no site: Great Works of Western Art.
  • “As Bodas de Caná”, no site Wikipédia;

5 Comentários


  1. Tom estou impressionada com sua dedicação e empenho ….Que aula fantastica ….minha tarde de domingo foi enriquecida com sua cultura e generosidade ….adorei …
    Seja sempre bem vindo Abs
    Neusa e Silvio

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  2. Confesso que essa obra me deixou extasiada quando vi… magnífica… até esqueci da Monalisa…pena que na segunda vez, ano passado, o museu se encontrava em reforma e não pude reve-la. Agora com essas informações maravilhosas irei com outros olhos saborear essa preciosidade.

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  3. Obrigada pela maravilhosa explicação. A obra ficou ainda mais explendorosa agora que conheço os mínimos detalhes.

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  4. tive conhecimento desta tela lendo o livro Ferias de Natal de Somerset maugham .Fiquei curiosa e fui ao google .Que maravilha conhecer seu trabalho. Parabéns.

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  5. Uma interpretação fantástica que amplia os conhecimentos e te coloca dentro do quadro. Vivenciei cada momento descrito e estou extasiado. Muito obrigado. Abraços.

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