Dama de Pedra ou Dama de Auxerre

Dama de Pedra ou Dama de Auxerre

Tempo de leitura: 5 minutos

Dama de Pedra ou Dame de Auxerre é uma das obras mais misteriosas do Louvre. Elegante e sedutora ela é uma atração especial entre arqueólogos, historiadores e amantes da arte. Sua origem provavelmente na Creta antiga foi realizado por um artista desconhecido, entre 640 a 630 a.C.

A forma feminina representada nesta figura coloca em dúvidas todos que a estudam, pois não se sabe se ela é uma representação divina ou terrena? Muito mistério ainda envolve essa estatueta fascinante que por sorte chegou ao Louvre por uma série de acontecimentos, esquecimentos e desinformações.

Dama de Pedra ou Dama de Auxerre
Dama de Auxerre (frente). Louvre. Foto: Carine Deambrosis.

Dama Pedra futura Dame de Auxerre:

Sua historia só conhecemos mesmo a partir de 1895, quando Madame Bourgoin resolveu vender numa casa de leilões em Auxerre, algumas obras e objetos deixados pelo seu falecido marido Édouard Bourgoin (antigo colecionador de arte).

Localização da cidade de Auxerre com relação a Paris (1h30 de carro).

Durante a venda no leilão a obra foi considerada pelos participantes presentes como uma estatueta bizarra, mal esculpida e sem interesse histórico. Acabou sendo vendida por apenas 1 franco para Louis David, concierge do Teatro de Auxerre que procurava acessórios decorativos para uma opereta que entraria em cartaz chamada: “Galathée“, do compositor Victor Massé (1822-1884), onde o enredo se passava na Grécia antiga.

Teatro de Auxerre. Foto: Wikipédia Commons.

A estatueta teve um papel importante no espetáculo dividindo a cena e os aplausos juntos aos artistas que todos os dias se apresentavam. Até que um dia com o fim da temporada foi enviada diretamente para o depósito do teatro.

Esquecida e abandonada durante meses ficou servindo como suporte para chapéus e fantasias no meio de vários outros objetos e acessórios de decorações.

Algum tempo depois, o diretor do teatro pediu para que Louis David a retirasse o mais rápido possível de lá.

Sem saber o que fazer pegou a estatueta colocou dentro de uma mala e deixou-a numa rua próxima ao Museu Abadia de Arte e História Saint-Germain de Auxerre. Encontrada por policiais que patrulhavam as ruas da cidade foi levada para o museu para saber se havia sido roubada.

Museu Abadia de Arte e História Saint-Germain de Auxerre. Foto: Site Auxerre.fr

O conservador do museu negou que fazia parte da coleção, mas concordou que fosse deixada na reserva do museu para ser analisada. E por lá ficou esquecida e cheio de poeira entre 1895 e 1907.

Foi neste mesmo ano de 1907 que o arqueólogo e historiador especialista em arte grega, Maxime Collignon (1849-1917) em busca de tesouros perdidos nos pequenos museus da França encontrou-a abandonada na reserva do museu.

Certo da raridade da sua descoberta Collignon propôs ao conservador do museu de Auxerre em comprá-la para o Louvre. O conservador (ou o prefeito da cidade) sem saber quanto a estatueta poderia valer preferiu trocá-la por uma paisagem do pintor Henri Joseph Harpignies (1819-1916).

Dama de Pedra futura Dama de Auxerre
“Un Torrent dans le Var” (1888), de Henri Joseph Harpignies (1819-1916).

As tribulações de uma Dama Pedra

E foi assim que a misteriosa estatueta sem nome e sem nenhum tipo de registro de procedência e história foi batizada como a Dama de Auxerre ao entrar no Louvre em 1908. Nome em homenagem a cidade francesa onde foi redescoberta.

Vídeo conto educativo produzido pelo Louvre para o site Petit Louvre.

Análise da obra:

Devido a ausência de mármore em Creta, a Dama de Auxerre foi esculpida num único bloco de pedra calcária branca, maleável e frágil.

Sua composição calcária é oólito (ou seja, apresenta elementos na forma de pequenos grãos de areia), além de conter finos restos de organismos fósseis (visíveis a olho nu na base, na saia e nos ombros da estatueta).

A estátua representa uma mulher em pé, vestida com uma saia longa, apertada na cintura por um cinto largo e semicoberta por uma capa nos ombros.

Dama de Pedra ou Dama de Auxerre
“Dame de Auxerre”. Louvre. Foto: Jastrow.

A Dama de Auxerre tem 75 centímetros de altura, um de seus braços está ao longo do corpo e o outro cruzado sobre o peito e as pernas juntas em posição estritamente frontal caraterístico de uma escultura grega do estilo dedálico (século VII a.C.).

Dama de Pedra ou Dama de Auxerre
“Dame de Auxerre”. Louvre. Foto: Jastrow.

Está vestida com um vestido justo na cintura com um cinto largo e uma capa sobre os ombros. Um vestuário que antigamente deveria estar pintado por tons de vermelho, preto e azul. Restam traços de vermelho próximo aos cabelos (peruca?) e na mão sobre o peito. Os desenhos na saia, na capa e adornos reduzem a desproporção entre a cabeça e o busto.

Dama de Pedra futura Dama de Auxerre
Rosto da “Dame de Auxerre” . Foto: Carine Deambrosis.

Embora seu rosto em forma de U esteja danificada podemos ver que ela está sorrindo, seu penteado é uma espécie de peruca à moda dos antigos egípcios.

Dama de Pedra futura Dama de Auxerre
“Dame de Auxerre” (costas). Foto: Carine Deambrosis.

Não se sabe quem ela representa, alguns especialistas dizem que pode ser a deusa oriental Astarte (deusa dos fenícios (de tradição bíblico-hebraica conhecida como deusa dos Sidônios), deusa da lua, da fertilidade, da sexualidade e da guerra.

Outros pensam que é uma representação de uma simples mortal e outros que é uma portadora de oferendas, serva de um algum culto de fertilidade.

Localização da obra:

Departamento de Antiguidades Gregas, Etruscas e Romanas.

Ala Denon, nível -1, Grécia pré-clássica, sala 170, Vitrine 26.

“Dama de Auxerre”. Louvre. Ala Denon, nível -1, Grécia pré-clássica, sala 170.

Gostaria de conhecer o Louvre como um Guia oficial? Então clique no botão abaixo para mais informações. Aguardo seu contato! Tom Pavesi!

Fontes: Sites: Museu do Louvre e Petit Louvre.

3 Comentários


  1. Caro Tom,
    Confesso que estava sentindo falta do seu vasto conhecimento.
    A “Dame de Auxerre” foi um achado incrível. É simplesmente uma obra de arte da antiguidade, a qual temos a satisfação em poder apreciar e viajar no tempo.
    Que caminhos tortuosos ele percorreu até chegar ao Louvre. Finalmente está segura.
    Obrigado mais uma vez
    Forte abraço,
    Victor

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    1. OI Victor! Realmente estive bem ocupado, mas sempre pensando no próximo artigo.
      Agradeço seu comentário e espero escrever novamente em breve!
      Abraços!

      Responder

  2. Simplesmente fabulosa.
    Espero que com o tempo e os conhecimentos de competentes arqueólogos, se venha a saber um pouco mais sobre esta escultura magnífica.
    Muito grata pela partilha.

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