Tempo de leitura: 26 minutos
As Joias da Coroa da França na Galeria Apolo do Louvre são o que restaram da esplendorosa coleção que começou a ser reunida em 1532, pelo rei Francisco I (1515-1547) transmitida e enriquecida por vários outros soberanos franceses e que infelizmente foi leiloada quase que por completo pelo Estado em 1887.
Galeria de Apolo, antiga Galeria dos Reis.
Galeria de Apolo está localizada sobre um antigo terraço aberto da Pequena Galeria construído em 1566 por ordens do rei Carlos IX (1560-1574).
Em 1594, o rei Henrique IV (1589-1610) ordenou que esse terraço fosse fechado e construído no local uma galeria de prestígio para expor os retratos de antigos reis, rainhas, e homens ilustres da França.
Chamada na época como Galeria dos Reis tinha como objetivo principal fazer a ligação entre o Palácio do Louvre ao Palácio das Tulherias (demolido em 1871).

Em 1652, aos 14 anos Luís XIV (1638-1715) instalou-se no Louvre. Três anos depois ordenou que seus apartamentos reais fossem reformados pelo arquiteto Louis Le Vau (1612-1670).
Em 6 de fevereiro de 1661, quando uma equipe de operários trabalhavam na Galeria dos Reis para preparação do cenário de um espetáculo de balé, um incêndio começou e destruiu completamente toda a decoração e as coleções de retratos deixadas por Henrique IV.
Luis XIV imediatamente pediu então para o arquiteto Louis Le Vau um novo projeto para as duas fachadas da galeria seguindo o estilo que seria aplicado mais tarde no Castelo de Versalhes, o Classicismo (movimento cultural, artístico e arquitetônico, fundamentado na busca da perfeição estética, harmonia das formas, simetria e racionalidade). Obra foi realizada entre 1661 e 1663.
O projeto iconográfico da Galeria de Apolo foi executado entre os anos de 1663 a 1677 pelo primeiro pintor do rei, Charles Le Brun (1619-1690) que consagrou um decoração esteticamente barroco com a alegoria do Sol que o rei Luís XIV estava começando a adotar como emblema (futuro Rei Sol).
No programa decorativo do teto, Le Brun descreve a corrida do sol e sua encarnação no deus Apolo, deus da luz, da música, das artes, da beleza, poesia e do canto. Uma brilhante ilustração sobre a formação do universo, onde elementos opostos e complementares do mundo criam uma única unidade.
A galeria passou por várias restaurações entre 1899 e 2004 graças ao financiamento do grupo petrolífero francês, Total. A última em 2019, financiada pela Maison Cartier para exposição das joias e diamantes da coroa francesa.
Galeria de Apolo 2019.
A necessidade de uma nova apresentação das joias da Coroa da França que se encontravam expostas em locais diferentes e distantes do museu, a Galeria de Apolo acabou se beneficiando de uma reforma geral do seu salão.
Foi reaberta ao público em 15 de janeiro de 2020 toda renovada e trazendo de volta seu esplendoroso brilho, seus tesouros históricos e artísticos, antes apagados pelo acúmulo de poeira e desgastes do tempo.
Graças ajuda financeira da Maison Cartier e 10 meses de trabalhos de limpeza das pinturas do teto, dos estuques, das tapeçarias, instalações de novos pontos de iluminações, novos sistemas de alarmes e segurança para as vitrines e visitantes.
Hoje podemos apreciar no mesmo local, a coleção de antiguidades de vasos de cristas e de pedras de Luís XIV e das novas aquisições das joias da Coroa que estavam dispersas pelo mundo, compradas pelo Louvre no século XX e XXI.
As três novas vitrines:
Um dos principais pontos da reforma foi a criação de três novas vitrines no centro do salão para uma apresentação de forma cronológica das 23 joias reunidas que faziam parte da antiga coleção de joias da Coroa da França.
A 1° vitrine expõe joias da Coroa da França, entre 1530 e 1789.
A 2° vitrine expõe joias dos soberanos franceses, entre 1800 e 1850.
E a 3° vitrine expõe joias de Napoleão III, entre 1850 e 1870.
Desde 1861, a galeria já vinha expondo a coleção de objetos e vasos de pedras duras de Luís XIV em vitrines de madeira douradas projetadas no século XIX. Esses e outros mobiliários próximos as janelas continuam presentes nessa nova configuração dos espaços.
1° vitrine: Joias da Coroa da França (1532-1789).
As principais joias expostas na vitrine são:
Coroa de Luís XV:
Os reis da França quando eram coroados e sagrados pelo poder divino, haviam o costume de mandar confeccionar sua própria coroa conforme suas vontades. No caso de Luís XV (1610-1643) foram feitas duas coroas, uma em ouro esmaltado (desaparecida) e esta que se encontra na nova vitrine do Louvre, desenhada pelo joalheiro Claude Rondé e executada por Augustin Duflos (1715-1774).
A coroa com pedras foi usada somente uma vez durante a recepção que seguiu a celebração da coroação de Luís XV com a coroa de ouro, na Catedral de Notre-Dame em Reims, em 25 de outubro de 1722.
Em 1729 a coroa foi desmontada, as pedras preciosas substituídas por cópias, sem valor e levada para abadia de Saint-Denis com os outros instrumentos cerimoniais, chamadas Regalia. Entrou para o museu do Louvre, em 1852.
Capacete de estrutura metálica, com 8 arcos ornados de pedras preciosas, forrado por tecido de cetim bordado com 24 diamantes.
A estrutura metálica em forma de círculo que se encaixa a cabeça é composta por 2 fileiras de pérolas e 8 pedras coloridas (safiras, rubis, topázios e esmeraldas) alternadas com diamantes.
Em cada arco, uma flor-de-lis com três pétalas de diamantes, sendo que um delas é quadrada.
No alto, outra flor-de-lis, (símbolo da monarquia real francesa), agora com 5 pétalas de diamantes, 4 menores redondas e uma grande em forma de gota, o “Grande Sancy”, de 55,23 quilates, o segundo diamante mais importante do Louvre depois do “Le Regent”.
No total, a coroa consiste de 282 diamantes (161 grandes e 121 pequenos), 64 pedras coloridas, (16 rubis, 16 safiras, 16 topázios e 16 esmeraldas) e 237 pérolas.
Em 1729, por ordens do rei Luís XV, todas as pedras foram substituídas por cópias, sem valor, com exceção do diamante “Le Regent” e o “Grand Sancy“, onde cada tem uma história particular. Todas as duas estão expostas individualmente nessa vitrine.
Os três diamantes: “Le Regent”, “Grand Sancy” e “Hortensia”.
Em detalhes a principais joias expostas da vitrine:
“Grand Sancy”:
Descoberto provavelmente na Índia no século XV, após a passar por vários mãos foi inventariado em 1589 como fazendo parte da coleção do rei de Portugal Filipe I (1581-1598) que por problemas financeiros e guerra contra Espanha penhorou a pedra.
Por falta de pagamento ao penhor foi comprado em 1589 pelo diplomata francês, Nicolas de Harlay de Sancy (1546-1629) que ficou conhecida por esse nome, o “Grand Sancy” (55,26 quilates), o “Grand” foi para diferenciá-lo de um outro diamante que também possuía chamado: “Beau Sancy”, (“Belo Sancy”), de 34,98 quilates.
Nicolas também o penhorou no mesmo ano para para pagar mercenários a lutarem em 1589, junto ao rei Henrique III (1574-1589), na guerra contra os católicos radicais de Paris. Em 1604 acabou sendo vendido pelo seu irmão ao rei da Inglaterra, Jaime I (1603-1625) e VI da Escócia (1567-1625).
Em 1647 foi novamente penhorada, agora pela herdeira do rei, a rainha consorte da Inglaterra Henriqueta Maria de França (1609-1669), filha de Henrique IV (1589-1610) e irmã de Luís XIII (1610-1643).
De novo, por falta de pagamento ao penhor foi comprada em 1657, pelo cardeal Mazarino (1602-1661) que ao morrer deixou em testamento para ao rei Luís XIV (1643-1715), entrando assim para coleção de joias da Coroa da França.
Foi então colocado em 1722, para compor a Coroa de Luís XV (1715-1774), usada também por Luís XVI (1774-1793). Depois como joia por Maria Antonieta (1774-1793).
Durante a Revolução Francesa toda a coleção mais móveis e objetos de valores que estavam espalhados entre palácios e residências da França foram levadas para serem protegidas no antigo Palácio Guarda-Móveis da Coroa (atual Hotel da Marinha), na Praça da Concordia.
Mas, entre 11 e 17 setembro de 1792, a coleção com 9.547 diamantes, 506 perola, 230 rubis e espinelas, 71 topázios, 150 esmeraldas, 35 safiras e 19 pedras semipreciosas foram roubadas.
Em 1794, depois de muitas investigações, do total roubado, somente 2/3 da coleção foi encontrada e por sorte estavam incluídos os principais diamantes, como: “Le Regente”, “Grand Sancy” e “Hortensia“.
Toda a coleção foi leiloada pelo Estado em 1889. Diversos pessoas tomaram posse do “Grand Sancy” passando pelas mãos de espanhóis, um príncipe russo, um milionário indiano e por último, o bilionário americano, William Waldorf Astor (1848-1919).
Ficou na família Astor até 1979, ano em que foi comprada pelo museu do Louvre para completar no que restou da antiga coleção de joias da coroa da França, atualmente em exposição nessa nova vitrine da Galeria de Apolo.
“Le Regent”:
O famoso diamante “Le Regent“ encontrava-se na parte frontal, logo no início de um dos arcos da coroa de Luís XV, acima de um grande rubi quadricular vermelho.
Descoberta em 1698 na Índia, na cidade de Golconda (Índia) pelo nome de “Jamchand”, pesava 426 quilates (85,2 g) antes de ser levada para Inglaterra, pelo governado inglês de Madras, Thomas Pitt (1653-1726).
Depois de lapidado, passou a pesar 140,64 quilates (28,1 g), mas é ainda considerado o melhor diamante do mundo pelo seu brilho impecável, corte perfeito e sua cor incolor e o mais importante do Louvre, por sua historia e valor.
Em 1717 foi comprado pelo regente Filipe II, Duque de Orléans (1715-1723), Regente da França durante a minoria de Luís XV, por isso ter recebido esse nome: “Le Regent“.
Ela foi usada na coroa de três reis franceses: Luís XV (1715-1774) como já vimos no alto, Luís XVI (1774-1792), Carlos X (1824-1830) e também por Napoleão Bonaparte (1804-1814/1815) num botão de gola, no chapéu bicorne e no alto da sua espada imperial, e por último em 1856 no diadema grego da imperatriz Eugenia de Montijo (1826-1920), esposa do imperador Napoleão III (1852-1870).
“Hortensia”:
O diamante ”Hortensia” recebeu esse nome por ter sido várias vezes usado por Hortênsia de Beauharnais (1783-1837), filha de Josefina Beauharnais (1763-1814), esposa do imperador Napoleão Bonaparte I, casada com seu irmão, Luís Bonaparte (1178-1846).
O diamante rosado de 21,32 quilates foi adquirido lapidado em 1678, por Luís XIV que o usava como botão de roupa. Em 1691 foi inventariado entre os 19 diamantes da coleção de joias da Coroa da França.
Inventariado novamente em 1774 no reinado de Luís XV (1715-1774) e em 1791 no reinado de Luís XVI (1174-1792) onde apareceu cotado por um valor abaixo do mercado, devido a uma pequena rachadura em uma de suas facetas.
Durante a Revolução Francesa, toda a coleção, mais móveis e objetos de valores que estavam espalhados entre palácios e residências da França foram levadas para serem protegidas no antigo Palácio Guarda-Móveis da Coroa (atual museu Hotel da Marinha), na Praça da Concórdia.

Mas, entre 11 e 17 setembro de 1792, a coleção com 9.547 diamantes, 506 perola, 230 rubis e espinelas, 71 topázios, 150 esmeraldas, 35 safiras e 19 pedras semipreciosas foram roubadas.
Em 1794, depois de muitas investigações, do total roubado, somente 2/3 da coleção foi encontrada, e felizmente estavam incluídos os principais diamantes, como: “Le Regente”, “Grand Sancy” e “Hotensia“.
Em 2 de dezembro 1804, com a coroação de Napoleão Bonaparte I (ler artigo), as joias que estavam bem guardadas passaram a serem exibidas e usadas por membros da família do imperador.
Napoleão I, antes de emprestar a sua nora, Hortênsia de Beauharnais, chegou a usa-lo na alça de uma ombreira. Três anos depois de sua abdicação ao trono em 1815, um novo inventário foi feito em 1818 e a “Hortensia“ constava na coleção.
De 1832 a 1848 as joias da coroa francesa permaneceram sob os cuidados da administração civil, voltando a reaparecer em público a partir 1852, no Segundo Império (1852-1870), com o imperador Napoleão III.

Em 1856, o diamante “Hortensia”, juntamente com outros 207 diamantes foi montado por joalheiros da Maison Bapst num grande Pente de borla (peigne à pampilles) para a imperatriz Eugénia De Montijo (1826-1920).
Exibidas na Exposição Universal em Paris em 1878 e depois no Louvre em 1884, antes de serem finalmente leiloadas em 1887.
A grande coleção de joias da Coroa da França foi vendida, mas o diamante “Hortensia” foi excluído do catálogo de venda e integrada ao Museu de História Natural. Mais tarde foi levada para o Louvre, onde encontra-se hoje exposta na nova vitrine da Galeria de Apolo.
2° Vitrine: Joias dos soberanos franceses (1800-1850).
Corresponde a joias do Primeiro Império com Napoleão Bonaparte I (1804-1814/1815)), da Restauração, com os reis Luís XVIII (1814/1815-1824) e Carlos X (1824-1830) e da monarquia de julho, com o rei Luís Filipe I (1830-1848).
As principais da vitrina são:
Diadema da duquesa de Angoulême:
Diadema (ou Tiara) de esmeraldas e diamantes realizado em 1819, pelos joalheiros franceses Jacques-Evrard Bapst (1771-1842) e seu sobrinho Christophe-Frédéric Bapst (1789-1870), considerado uma obra-prima pela riqueza das suas pedras, qualidade da montagem e detalhes artísticos do estilo clássico.
Um design simétrico de folhagens rolantes compostas por 1.031 diamantes cravejados em prata dourada. No centro do diadema, uma grande esmeralda quase quadrada, muito fina de 15,93 quilates, cercada por uma moldura de 18 diamantes.
A grande esmeralda está acompanhada por 40 outras esmeraldas cravejadas em ouro de vários pesos e tamanhos.
Presente oferecido pelo rei Luís XVIII a sua sobrinha, a duquesa de Angoulême, Maria Teresa Carlota de França (1778-1851), filha de Luís XVI e Maria Antonieta, para completar um adorno em esmeraldas que ela já possuía desde em 1814, composto por um pente, um colar, pulseiras e brincos, realizados pelo joalheiro Paul-Nicolas Ménière.
Durante o Segundo Império (1852-1870) o diadema chegou a ser usado pela imperatriz Eugénia de Montijo (1826-1920), esposa do imperador Napoleão III (1852-1870), mas acabou sendo leiloada em 1887, pelo Estado juntamente com outras joias da coroa da França. Comprada por um colecionador particular inglês, que mais tarde o revendeu ao Museu do Louvre, onde encontra-se exposta na nova vitrine da Galeria de Apolo.
Colar e brincos de esmeraldas da imperatriz Maria Luísa de Áustria:
Conjunto de colar e brincos de esmeraldas e diamantes oferecido pelo imperador Napoleão I (1804-1814/1815) a sua 2° esposa, a imperatriz e arquiduquesa, Maria Luísa de Áustria (1791-1847), por ocasião de seu casamento em 1810.
O colar é composto por 32 esmeraldas, em forma ovais, quadradas e gotas adornada com 1138 diamantes, sendo 874 brilhantes e 264 rosas de vários tamanhos.
A esmeralda central de 13,75 quilates métricos, de forma oval tem em oito faces.
Cada brinco possui uma grande esmeralda em forma de gota (pera), adornada com brilhantes e duas esmeraldas menores.
Antes que Napoleão I partisse para o exílio na ilha de Elba, em maio 1814, após sua primeira abdicação, Maria Luísa juntamente com seu filho Napoleão II (1811-1832), partiram para Áustria em 29 de março de 1814 levando suas próprias joias pessoais, tudo que havia ganho do imperador e outras que faziam parte da coleção de joias da coroa da França, desobedecendo as ordens do novo rei da França, Luís XVIII (1814/1815-1824).
Após sua morte em 17 de dezembro de 1847, ela legou o conjunto ao seu primo grão-duque da Toscana, Leopoldo II de Habsburgo (1797-1870) cujos descendentes o mantiveram até 1953, ano que foi vendido ao joalheiro, Van Cleef & Arpels.
O conjunto completo, ainda incluía um diadema e um pente. Embora, o pente tenha sido modificado e as esmeraldas do diadema desmontadas e vendidas individualmente a uma rica colecionadora americana, o colar e o par de brincos felizmente foram preservados na sua forma original e voltaram para coleção das joias da coroadas em 2004, graças a Sociedade dos Amigos do Louvre e da direção do museu.
Conjunto de joias da rainha Maria Amélia:
Todas as joias do conjunto são adornadas com safiras do Sri Lanka (antigo Ceilão) em seu estado natural, ou seja, sem aquecimento para mudança de cor, como são feitos hoje pelos joalheiros.
Safiras de vários tamanho e formas cercadas por pequenos diamantes montadas numa em estrutura de ouro. Todos os elos do colar são articulados, o que revela a grande perfeição técnica da execução.
O conjunto é composto:
1 Diadema com 24 safiras e 1.083 diamantes.
1 Colar com 8 safiras e 631 diamantes.
1 Par de brincos com 2 safiras e 59 diamante, cada.
1 Par de broches pequenos: 1 safira e 26 diamantes, cada.
1 Broche grande composto com 4 safiras, 263 diamantes, grampo de ouro.
Foi usado sucessivamente por Hortênsia de Beauharnais (1783-1837), filha de Josefina de Beauharnais, primeira esposa Napoleão Bonaparte I foi comprado em 1821 pelo futuro rei dos franceses, Luís Filipe I (1830-1848) que ofereceu a sua esposa e também futura rainha, Maria Amélia de Nápoles e Sicília (1782-1866).
O diadema foi reduzido entre 1863 e 1873, como revelado no retrato de Maria Amélia, por Louis Hersent.
Permaneceu por longo tempo com os descendentes diretos de Maria Amélia. Primeiramente com as princesas: Maria Isabel de Orleães (1848-1919), Isabel Maria Laura M. de Orleães (1878-1961) e por último a condessa da França e princesa do Brasil, Isabel de Orléans e Bragança (1911-2003).



Apesar das várias personalidades ilustres usarem esse conjunto, o mistério da sua origem persiste, por falta de documentação dificilmente saberemos quem encomendou e quem a realizou as peças, mas tudo leva a crer que foram joalheiros parisienses do início do século XIX.
Em 1985, o conde de Paris, Henrique de Orléans (1908–1999), marido de Isabel de Orléans e Bragança, com sérios problemas financeiros negociou o conjunto completo com o Louvre onde podemos hoje apreciá-lo em exposição na nova vitrine da Galeria de Apolo.
Par de braceletes da duquesa de Angoulême:
Este par de pulseiras fazia parte de um conjunto de joias criados em 1811 pelos joalheiros da Maison Nitot para a imperatriz Maria Luísa de Áustria (1791-1847), segunda esposa de Napoleão I (1804-1814/1815).
Com volta da monarquia, o novo rei da França, Luís XVIII (1755-1824) ordenou que todo conjunto fosse desmontado para serem trabalhadas conforme a moda da época.
Assim, os rubis e brilhantes de Maria Luísa foram remontados em 1813, por Paul-Nicolas Menière (1745-1826) conforme desenho do seu genro Jacques-Evrard Bapst (1771-1842) e oferecido a duquesa de Angoulême, Maria Teresa Carlota de França (1778-1851), filha de Luís XVI e Maria Antonieta.
O novo conjunto muito parecido com os originais da Maison Nitot consistia em um diadema, um colar, um pente, um par de brincos, um cinto, três clipes e esse par de braceletes de rubis e brilhantes, hoje em exposição na Galeria de Apolo, no Louvre.
As duas pulseiras são compostas de 24 rubis ovais cercadas por 356 diamantes redondos. A cor escarlate dos rubis está realçada por sua associação com o brilho dos diamantes brancos.
Um friso regular alternando orbes e florzinhas é interrompido no centro por um oval oblongo decorado com três rubis.
Essas pulseiras, como o resto do conjunto atravessaram os diferentes regimes do século 19 sem incidentes e foram usadas pela rainha Maria Amélia de Nápoles e Sicília (1782-1866) e pela imperatriz Eugénia de Montijo (1826-1920), esposa do imperador Napoleão III (1852-1870), mas acabou sendo leiloada em 1887, pelo Estado juntamente com outras joias da coroa da França.
Seu retorno a coleção da coroa, não ficou claro, sabemos somente que o par de braceletes havia sido adquirido em 1887, pela joalheria Tiffany e que em 1793 foi legado ao Louvre por uma pessoa chamada Claude Menier.
3° Vitrine: Joias de Napoleão III (1850-1870).
As principais joias da vitrine são:
Coroa da Imperatriz Eugénia:
A coroa da Imperatriz Eugênia revela o esplendor do Segundo Império na França (1852-1870), bem como o virtuosismo dos joalheiros da época.
Na Exposição Universal de Paris de 1855, o 2° imperador da França, Napoleão III (1848-1870) querendo impressionar ao mundo, expondo algumas das joias da Coroa da França, encomendou ao joalheiro, francês Alexandre-Gabriel Lemonnier (1808-1884) que realizasse uma coroa com diamantes e esmeraldas para sua esposa, a Imperatriz Eugênia de Montijo (1826-1920) e uma outra para ele (hoje, desaparecida).
A forma da coroa da Imperatriz é típica das representações das coroas imperiais, concebidas segundo um princípio já presente no brasão imperial do Primeiro Império.
Os motivos; águia (poder), louros e os ramos de palmetas (vitória e glória) são recorrentes no simbolismo imperial.
Arcos formados por oito águias em ouro, que se alternam com oito longas folhas de louro e palmetas (ramos de palmeira), incrustados de diamantes e esmeraldas. O conjunto totaliza 2490 diamantes e 56 esmeraldas.
No alto da coroa, um globo de pequenos diamantes, circundada por um anel e um meio anel com 32 esmeraldas. No topo do globo uma cruz, com 6 brilhantes de diamantes.
Em 1876 foi restituído a imperatriz Eugênia que se encontrava em exílio e após sua morte em 1920 deixou como legado para princesa Marie Clotilde Bonaparte (1912-1996), condessa de Witt. Em 1988 foi adquirido pelo Louvre.
Diadema da Imperatriz Eugénia (1853):
Logo após seu casamento com Eugénia de Montijo (1826-1920), o imperador Napoleão III (1852-1870) encomendou em 1853, um novo conjunto de joias para ela, composto por um diadema (foto acima), uma coroa de diamantes e um grande broche de diamantes – “Grand noeud de corsage“. Todos executados pelo joalheiro Alexandre Gabriel Lemonnier (1808-1884).
As pérolas, esmeraldas e os diamantes vieram de um conjunto criado em 1811 pela Maison Nitot para a imperatriz Maria Luísa de Áustria (1791-1847), segunda esposa de Napoleão I (1804-1814/1815) e modificado entre 1819 e 1820 por ordens de Luís XVIII (1814/1815-1824).
Composto por 1998 diamante e 212 pérolas, de vários formatos e tamanhos.
O diadema de Lemonnier foi retratado na pintura da Imperatriz Eugénia, de Franz Xaver Winterhalter (1805–1873). Original desapareceu em 1870.
Quando as joias da Coroa da França foram leiloados em 1887, o diadema da imperatriz foi comprada pelo joalheiro Jacoby que felizmente não a desmontou.
Em 1890, foi comprada pelo príncipe alemão Albert Thurn und Taxis por ocasião de seu casamento e vendida mais de um século depois em 1992, pela princesa Gloria para pagar dívidas de família, a Associação Amigos do Louvre que o doou ao Museu. Hoje se encontra em exposição na nova vitrine da Galeria de Apolo.
Grande nó de diamantes da Imperatriz Eugénia (Broche):
O suntuoso Grande nó de diamantes da imperatriz Eugénia (broches de diamantes), em francês: “Grand noeud de corsage de l’Impératrice Eugénie” fazia parte de cinto em diamantes executado em 1855, pelo joalheiro François Kramer.
Encomendado por Napoleão III (1852-1870) e dado de presente a sua esposa, a imperatriz Eugénia de Montijo (1853-1870) para ser exibida na Exposição Universal de Paris, do mesmo ano.
O desenho do nó, com duas franjas e pingentes laterais foram inspirados na moda do final do século XVIII e é composto de 2.634 diamantes, sendo 196 diamantes rosa montado pesando no total mais de 140 quilates.
Em 1864, a pedido da imperatriz, o cinto foi desmontado e apenas a peça central, “O grande nó de diamantes” foi preservada para ser adaptada como um broche. Mede 11 centímetros de largura por 22 centímetros de altura.
Em 1887, o broche acabou sendo leiloado pelo Estado juntamente com outras joias da coroa da França e adquirido pela rica americana Caroline Schermerhorn Astor (1830-1908).
Em 2008 quando foi anunciado para venda pela casa de leilões Christie’s em Nova York, a direção do Louvre imediatamente expressou seu desejo de trazer a joia de volta à França. Por motivos legais o leilão foi cancelado e graças ao apoio da “Sociedade dos Amigos do Louvre” e do Fundo do Patrimônio francês, o museu conseguiu adquirir a joia por 6,72 milhões de euros.
Localização no Louvre:
As 23 joias representam hoje um tesouro histórico do Louvre, onde cada uma teve uma trajetória distinta ao longo dos séculos, passando em mãos em mãos, reis, rainhas, princesas, imperadores, ricos homens e mulheres de negócio, são agora exibidas nas três novas vitrines criadas em 2019, na Galeria de Apolo, do Louvre, sala 705.
Gostaria de fazer uma visita guiada ao Louvre? Então clique no botão abaixo para mais informações e agendamento. Aguardo seu contato! Tom Pavesi.
Fonte: Museu do Louvre e artigos de imprensa.
Link permanente
Adorei a historia!! Pena que hoje só veremos uma pequena parte do que já exestiu.
Link permanente
Uma pequena parte mas que valem milhões! Espero você, Omar e galerinha no Louvre! Abraços!
Link permanente
Adorei a história e as jóias. Realmente lindíssimas. Parabéns pela matéria muito rica em detalhes. Espero conseguir visitar esta ala do museu na minha viagem a Paris.
Link permanente
Caro Tom,
Congratulações pela matéria tão bem escrita e ricamente ilustrada.
Joias magnificas e de rara beleza, cada uma com sua história peculiar.
O “Le Regent”, ” Grand Sancy” e “Hortensia” são de tirar o fôlego de qualquer mortal
Graças ao governo francês, amigos do Louvre e outros, aos poucos as peças retornam ao seu legítimo lugar
As duas únicas oportunidades em que estive em Paris, não estive na Galeria de Apolo. É preciso muito tempo para apreciar todas as maravilhas do Louvre.
Pretendo voltar um dia para apreciar de perto, essas e outras maravilhas
Obrigado por compartilhar
Cordialmente,
Victor Feijó Filho
Link permanente
Obrigado Victor! Espero um dia poder te mostrar pessoalmente! Abraços!
Link permanente
Caro Tom,
Eu é que tenho a agradecer a você por compartilhar o seu valioso conhecimento.
Certamente será uma honra para mim poder estar em sua companhia.
Forte abraço
Victor
Link permanente
Estou embebecida …. parabens pela narrativa , espero ver tudo isso um dia e, com certeza com vc de guia
Link permanente
Opa! Já estou contando os dias, quer dizer.. os meses! Abraços!
Link permanente
Tom Pavesi,
Boa noite!
As jóias são maravilhosas! Parabéns ao Louvre por reunir numa só galeria essa maravilhosa exposição!
Parabéns a você por nos brindar com esse belo trabalho e pela descrição detalhada de cada jóia.
Maria das Graças Paranhos
Link permanente
Merci Maria! Feliz que gostou! Agora é só vir para poder ver pessoalmente! Abraços!
Link permanente
Parabéns pela aula magnífica sobre As Joias da Coroa da França.👏👏👏👏👏Pretendo conhecê-las em breve!
Link permanente
Joias magnificas expostas sob o benefício da Maison Cartier ,demonstrando assim, a valorização aos Bens Culturais que devem ser sempre preservados nos espaços museais.
Novamente o parabenizo Tom Pavesi, pela excelente descrição e riqueza de detalhes.