Deposição do Corpo de Cristo da Cruz

Deposição do Corpo de Cristo da Cruz

Tempo de leitura: 6 minutos

Deposição do Corpo de Cristo da Cruz (em francês: “La Déposition“) foi realizado entre 1575 a 1577 pelo italiano Jacopo Bassano (ca.1510-1592). Pintor maneirista que empregava formas complexas, alongadas e dinâmicas, representante da Escola de Veneza onde integrava em suas pinturas temas bíblicos repletos de significados simbólicos.

Retrato de Jacopo Bassano (1590), realizado pelo filho Gerolamo Bassano (1566-1621).
Museu de História da Arte em Viena, Áustria.

Incansável Jacopo Bassano

Bassano, nos seus aproximados 65 anos de pintura muitas das suas obras são temas com passagens do novo testamento. Desde a Natividade (“L’Annonce aux bergers“, 1535) até a revelação de Jesus ressuscitado (“Le Christ se révélant aux pèlerins d’Emmaüs“, 1538).

Sua fama lhe rendeu o nome de sua cidade, Bassano del Grappa (Itália). E por morar perto de uma ponte ficou conhecido também como Jacopo dal Ponte (Jacopo da Ponte).

Teve quatro filhos, todos pintores: Francesco Bassano, o Jovem (1549 -1592), Giovanni Battista (1553-1613), Leandro (1557-1622) e Gerolamo (1566-1621). Nos últimos anos de vida, como quase não enxergava mais por causa de sua catarata, seus filhos que tinham as mesmas semelhanças estilísticas eram quem terminavam as obras. Ainda hoje algumas dessas obras são difíceis de atribuir o verdadeiro autor.

A partir da década de 1560, Jacopo Bassano demonstrou um interesse crescente pelos efeitos de iluminação influenciado pelos seus amigos contemporâneos Ticiano (1473 ou 1490-1576) e Tintoretto (1518-1598) favorecia com pinceladas de tintas brilhantes com fortes tons de claros e escuros.

Contexto Bíblico:

A história da Paixão, especialmente logo após a morte de Cristo na Cruz aconteceu em um cenário noturno de acordo com a tradição católica, embora Cristo tenha morrido à tarde, o sol foi completamente obscurecido naquele momento e a terra escureceu.

O tema da obra é religioso, típico da pintura gótica que Jacopo gostava de se inspirar.

A Deposição do Corpo de Cristo da Cruz.

Ocorreu na noite da crucificação, José de Arimateia (rico senador, discípulo secreto de Jesus) pediu a Pôncio Pilatos (governador da antiga Judeia) permissão para levar o corpo de Jesus para ser sepultado numa gruta de sua propriedade. Pôncio Pilatos, surpreso com a rapidez da morte, depois de pedir a confirmação Longino (futuro São Longuinho) centurião que havia perfurado com a lança sagrada o lado direito de Jesus, concede a José de Arimateia o direito de sepultá-lo.

No caminho para o Monte Gólgota onde Jesus foi crucificado José de Arimateia comprou uma mortalha para envolver o corpo de Cristo, assim como Nicodemos (fariseu, membro do corte, discípulo secreto e defensor de Jesus) veio ajudá-lo na Deposição do corpo de Jesus da Cruz. Foi ele quem trouxe a mistura de mirra e aloe.

Apesar do Novo Testamento não descrever com detalhes, na pintura e na arte em geral esse tema foi profusamente representado.

Análise da obra:

Essa obra encontra-se quase ao lado da Mona Lisa e que incrivelmente multidões passam ao lado e não se dão conta da sua importância na história e no seu significado.

Assinalado no círculo em branco “Deposição do Corpo de Cristo da Cruz”, de Jacopo Bassano. Sala Joconde, Museu do Louvre.

Podemos observar toda a intensidade emocional da cena. A chama no centro da composição, única fonte de luz é característica das cenas noturnas produzidas pelo artista a partir de 1575.

À esquerda na composição, Cristo foi representado deitado aos pés da cruz rodeado por Nicodemos com as mãos no escada e José de Arimateia que aparece envolvendo o Corpo na mortalha. À direita está Santa Maria Madalena inclinada perto da da grande vela acesa, seguida por Nossa Senhora Mãe de Jesus que aparece estendendo suas mãos para seu filho, uma Mulher Santa orando por Ele ajoelhada e ao fundo na penumbra, o apóstolo João (evangelista) aparece recuado orando com os braços abertos.

Deposição do Corpo de Cristo da Cruz
“La Déposition de Christ”, de Jacopo Bassano (Jacopo dal Ponte). Louvre. Foto: Franck Raux.

O poderoso claro-escuro molda os corpos que surgem da escuridão produzindo um efeito dramático de intensidade, perturbadora e de uma triste realidade.

É de se notar que a luz da chama da vela não parece ser tão forte para iluminar as expressões faciais, partes dos corpos e nas texturas dos tecidos. Jacopo ao jogar com essa forma de composição criou uma outra realidade, dessa vez simbólica para se analisar a cena onde devemos nos perguntar:

De onde vem a luz que ilumina a parte calva de Jose de Arimateia? E a luz sobre o ombro de Maria Madalena? E no lenço sobre a cabeça e ombros de Nossa Senhora? E na Mulher Santa que se encontra bem distante da vela e recuada em relação Maria Madalena e Nossa Senhora?

Simbolicamente a verdadeira luz da composição vem do peito de Cristo. Ele sim é a Luz Divina que sacrificou-se para livrarmos dos nossos pecados. Foi Ele quem trouxe uma nova perspectiva de vida àqueles que reconhecem e confessam sua fé neste sacrifício.

Essa talvez seja a verdadeira mensagem deixada secretamente por Jacopo Bassano.

Respondeu Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim. (João 14:6).

Deposição do Corpo de Cristo da Cruz
“La Déposition de Christ”, de Jacopo Bassano (Jacopo dal Ponte). Louvre. Foto: Franck Raux.

Para finalizar. Nessa composição maneirista, o corpo de Jesus está mais alongado que o real, uma caraterística muito presente desse movimento que tinham com regras a estilização exagerada e distorcidas dos personagens principais.

Localização no Louvre.

Pinturas Italianas.

Ala Denon, 1° andar, sala 711, (“Salle de la Joconde” ou “Salle des États).

Deposição do Corpo de Cristo da Cruz. Ala Denon, 1° andar, sala 711 (Salle de la Joconde ou Salles des États).

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Fontes: Museu do Louvre, Wikipédia e sites da web. Foto título (capa): Franck Raux.

1 comentário


  1. Pode ter passado despercebido por muita gente. Para mim, não.
    Fiquei um bom tempo admirando essa beleza de quadro. Obrigada pela excelente análise da obra.

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