Tumba de Philippe Pot

Tumba de Philippe Pot

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Tumba de Philippe Pot. É um monumento funerário com esculturas em pedra calcário policromado realçada com ouro e chumbo realizado entre 1475 e 1500 por um escultor anônimo, mas segundo alguns especialistas pode ter sido realizado por Antoine Le Moiturier (1425-1497), escultor muito ativo entre 1482 e 1497.

Proveniente da Capela Saint-Jean-Baptiste da Abadia de Cister (Cîteaux), no departamento da Costa do Ouro (Côte-d’Or) na região da Borgonha-Franco-Condado.

Philippe Pot (ca. 1428-1493).

Nobre, líder militar e diplomata da Borgonha, Senhor de La Roche e Thorey-sur-Ouche, “Cavaleiro do Toison d’Or” (Velocino de Ouro) e Grande Senescal da Borgonha.

Philippe Pot no livro de Ordenanças e Armorial
do Tosão de Ouro. Autor desconhecido.

Nascido por volta de 1428 no Castelo de la Rochepot era neto de Régnier Pot (1362-1432) que havia sido conselheiro do rei Carlos VI (1380-1422) e um dos mais importantes conselheiros da corte do Duque da Borgonha Filipe II (1342-1404), “o Audaz“.

Philippe Pot educado na corte ducal em Dijon tornou-se o primeiro conselheiro do seu padrinho Filipe III, o Bom (1396-1467) duque herdeiro da Borgonha onde participou ativamente de quase todos os negociações diplomáticos na época.

Em 1461 após vinte anos de serviço prestado ao duque foi condecorado como Cavaleiro do Tosão de Ouro (Chevalier du Toison d’Or). Ordem militar católica romana fundada por Filipe III, em 1430 para aproximar os nobres da Borgonha a combater ao seu lado, caso fosse necessário contra os inimigos do Estado.

Em 1464 foi promovido a “Grand Chambellan” (principal camareiro da corte que serve ao duque em seus aposentos e cuida da sua vida pessoal). Também o fez Senhor todo Poderoso das cidades de Lille, Douai e Orchies.

Com a morte de Filipe III em 1467, ele continuou desempenhando as mesmas funções de “Cambellan‘ com o novo herdeiro do trono da Borgonha, Carlos I (1433-1477) também conhecido como Carlos, o Temerário (Charles le Téméraire).

Conseguiu realizar o 3° casamento do duque com Margarida de Iorque (1446-1503), irmã dos reis da Inglaterra Eduardo IV (1461-1483) e Ricardo III (1483-1485) contribuindo assim para uma aliança fraterna entre a Borgonha e a Inglaterra.

Com a morte prematura de Carlos III em 1467, a região da Borgonha ficou dividida entre a herdeira Maria de Borgonha (1457-1482) e o rei da França, Luís XI (1461-1483), primo do defunto. Os ducados da França, não podiam por lei serem governados por mulheres.

Rei Luís XI (ca. 1470), de Jacob de Litemont, pintor da corte.

Resultado, Phillipe Pot por ser fiel ao rei Luís XI perdeu a cidade de Lille, mas evitou que regiões francesas da Holanda caíssem nas mãos de Maximiliano I (1459-1519), imperador Romano-Germânico, esposo de Maria da Borgonha.

Por tal feito heroico fez com que o rei Luís XI o nomeasse como primeiro conselheiro, cavaleiro de Saint-Michel, governador do Delfim Carlos (futuro rei Carlos VIII) e Grande Senescal da Borgonha (um tipo de juiz com o poder de justiça e de administrador das províncias da Borgonha). O que facilitou aceitação a dominação do rei aos pequenos vassalos da região da Borgonha.

Philippe Pot ainda trabalhou para o filho de Luís XI, o seu protegido rei Carlos VIII (1483-1498) conseguindo preservar por sua competência e fidelidade o título de Grande Senescal até sua morte em 1493.

História da Tumba de Philippe Pot.

Este monumento único é bastante mais fascinante. Foi encomendado por Philippe Pot (ca. 1428-1493) durante sua vida para ser instalado em uma capela da renomada Abadia de Cister (Abbaye de Cîteaux) e assim se auto representar por suas glórias, poderes e majestade.

P. Pot tinha intenções claras como gostaria de ser lembrado pelos seus anos passados na política do Ducado da Borgonha como ficou registrado pela longa inscrição na borda da lápide de pedra.

Tumba de Philippe Pot
Tumba de Philippe Pot. Louvre. Foto: Hervé Lewandowski (2018).

A obra foi executada entre 1477 e 1483, para ser instalada sobre seu túmulo no lado norte do transepto da Capela Saint-Jean-Baptiste da Abadia de Cister.

Os artistas e artesãos envolvidos em sua realização não foram identificados, embora o escultor francês Antoine Le Moiturier (1425-1497) foi sugerido como o criador do monumento.

Durante a Revolução Francesa, a abadia tornou-se propriedade nacional e o monumento foi confiscada para ser transferida para a igreja de Saint-Bénigne em Dijon, mas acabou sendo vendida a dois colecionares da cidade, Dardelin e Duleu, em 4 de maio de 1791 sem o sarcófago que guardava o corpo, provavelmente destruída pelos revolucionários.

Reapareceu em 5 de setembro de 1808 para venda em um leilão público em Dijon, como parte da coleção de Jean-François Pasquier de Messanges. Comprado por somente 53 francos por Charles Richard de Vesvrotte (1757-1840), senhor de Ruffey-lès-Beaune e presidente da Câmara de Contas da Borgonha.

O monumento ficou viajando por algumas propriedades da família de Vesvrotte entre 1808 a 1889. Em 1886, o Estado tentou recuperá-la através de um processo judicial, mas perderam a causa em 1887.

Um herdeiro da família Vesvrotte acabou vendendo o monumento ao Museu do Louvre em 1889.

Descrição da obra:

O monumento funerário de Philippe Pot é todo em pedra calcária policromada realçada com ouro e chumbo, medindo 1.81 m de altura, 2.60 m de largura e 1.67 m de profundidade.

Tumba de Philippe Pot (lado direito). Louvre. Foto: Hervé Lewandowski (2018).

A escultura de Philippe Pot repousa sobre uma laje de pedra vestido com um elmo, túnica e armadura de cavaleiro com uma couraça dourada. Sua cabeça repousa sobre uma almofada (de pedra), seus olhos estão abertos e tem as mãos cruzadas em oração.

Tumba de Philippe Pot
Vista do alto da Tumba de Philippe Pot. Louvre. Foto: Hervé Lewandowski (2018).

Uma espada encontra-se posicionada à esquerda e uma pequena estátua de um animal de difícil identificação, meio leão (símbolo de poder e soberania) meio cachorro (símbolo de fidelidade) repousa ao seus pés.

Tumba de Philippe Pot
Cachorro ou Leão nos pés de Philippe Pot. Louvre. Foto: Hervé Lewandowski (2018).

Oito chorantes (“pleurants”) enlutados carregam o corpo de Philippe Pot. Foram esculpidos em pedra preta, vestidos com roupas largas e compridas e rostos parcialmente encobertos por um capuz preto.

Tumba de Philippe Pot
Chorantes enlutados da Tumba de Philippe Pot (lado direito). Louvre. Foto: Hervé Lewandowski (2018).

Cada um inclina a cabeça em luto carregando um escudo heráldico dourado desenhado individualmente podendo fazer uma referência aos descendentes de Philippe Pot ou oito regiões da Borgonha na qual exercia uma soberania administrativa, ou uma criação imaginária do escultor.

Tumba de Philippe Pot
Chorantes enlutados da Tumba de Philippe Pot (lado esquerdo). Foto: Hervé Lewandowski (2018

Suas posturas e fisionomias dão a impressão que participam verdadeiramente de um cortejo fúnebre, onde caminham tristemente em passos lentos.

Epitáfio em caracteres góticos foram gravados na borda da laje. Certas palavras, ausentes ou ilegíveis foram restauradas graças ao arquivista Jean-Baptiste Peincedé, dos monumentos de Cister.

Tumba de Philippe Pot
Palavras em gótico nas laterais da laje da Tumba de Philippe Pot. Louvre. Foto: Hervé Lewandowski (2018).

CY DEMORRA MESSIRE PHILIPPE POT CHEVALIER SEIGNEUR DE LA ROICHE DE NOLAY DE CHASTELNEUF EN L’AUXOIS ET DE GEVREY EN CHALONOIS POUR LA PLUS PART GRANT SENESCHAL DE BOURGOGNE SEIGNEUR DE THOREY……….JOUR DU MOIS DE … L’AN MIL CCCCXCI.

AQUI REPOUSA MESSIRE PHILIPPE POT CAVALEIRO SENHOR DE LA ROCHE DE NOLAY DE CHÂTEAUNEUF-EN-L’AUXOIS E GEVREY-EN-CHALONOIS PARA A MAIOR PARTE GRAND SENESCAL DA BURGONHA SENHOR DE THOREY [………] DIA DO MÊS [… ] ANO MIL CCCCXCI (1491).

A originalidade magistral da composição, a audácia técnica estrutural da laje de pedra de uma tonelada apoiada nos ombros dos oito estátuas e o tratamento vigoroso do conjunto da obra ainda intriga os historiadores da arte e os visitantes do Museu do Louvre.

A sua última restauração foi em 2018 e o estudo técnico mais detalhado lançaram uma nova luz sobre este incomparável monumento.

Localização no Louvre.

Departamento de Esculturas da Idade Média, Renascimento e Tempos Modernos.

Ala Richelieu, sala 210, “Le tombeau de Philippe Pot”, nível térreo.

“Tumba de Philippe Pot”. Louvre. Ala Richelieu, sala 210, nível térreo.

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Fontes:

7 Comentários


  1. Muito interessante! Uma história que eu não conhecia! Você tem apresentado coisas bem bacanas!

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    1. Oi Adriana! meu objetivo é esse, mostrar obras de pouco conhecimento do grande público.
      Obrigado e ate as próximas! Abs

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      1. Parabéns Tom…
        Meu grande sonho na vida é passar um mês de férias em Paris…
        Um fraternal tríplice abraço .’.
        By JRod Silva .’.

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  2. MUITOOO OBRIGADO! MARAVILHOSO!
    Adorei! Eu adoro Aprender
    OBRIGADO por me ensinar.

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  3. Excelente artigo. Só me resta aplaudir. Obrigada.

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